Em janeiro de 2022, quando ainda havia chance do governante da hora ser reeleito e o atual perder pela quarta vez uma disputa presidencial, da mesma forma que o momento entre os brasileiros era de renovada esperança no hexa e em outras expectativas no ano que se iniciava, no dia 10 daquele mês, o dólar chegou a R$ 5,6742. Pois ontem, 02 de julho de 2024, após idas e vindas nesses dois anos e meio, a moeda norte-americana chegou a ser negociada a R$5,69, ultrapassando aquela alta. E já acumulou cerca de 17% a mais em seu valor de face desde janeiro deste ano.
E Lula com isso? Agentes públicos que operam no mercado financeiro nos EUA, Canadá, Zona do Euro, Reino Unido, outros blocos econômicos e países como Singapura e demais tigres asiáticos tipo a Coréia do Sul, exercem boas práticas e apresentam economias saudáveis e crescimento quase rotineiro em razão do respeito às suas respectivas políticas monetárias por governos que, invariavelmente, conferem independência aos seus bancos centrais. Como exemplo dos que concedem esta independência, cite-se os EUA, Reino Unido, Chile, Nova Zelândia, Japão e até o nosso vizinho mais ao norte, o México. E Lula com isso? Sinceramente, o que o distinto e estimado leitor (a) pensa a respeito do comportamento do presidente brasileiro em relação a condução da política monetária do País? E em relação ao dólar, na esteira do seu discurso inflamado contra os juros oficiais e, tudo junto e misturado, a condução do Banco Central? São perguntas respondidas a cada fala presidencial de improviso ou não, com a elevação do preço da moeda americana dia após dia, fala depois de fala. E por que Lula faz isso? Afinal, ele fala e só piora. Campos Neto no alvo A conspiração rediviva e permanente de Lula desde janeiro de 2023 é derrubar Roberto Campos Neto da presidência do BC. Ato contínuo, colocar no seu lugar um presidente pra chamar de seu, mesmo que o seu nome não seja Zé Dirceu. Para a banda boa do meio, se Lula continuar sua catilinária, a tendência é o “papel” dos yankees continuar a subir, e cada vez as digitais do responsável intelectual pelo seu aumento semana após semana vão ficar mais evidentes. Dito isso, sobre a fala presidencial (sempre ela) na semana passada de que, quem apostasse na alta do dólar teria prejuízo, e após a manifestação, ele não deixar de falar e a moeda não parar de subir, cabe a pergunta se não tem uma turma da pesada - que sabe das coisas - e anda comprando a verdinha em escala industrial? Quem são os “banqueiros do PT”? Quem é o “doleiro” do Lulinha? O que acham os doleiros sobre essas falas? Elas são somente danosas à nossa moeda agora balzaquiana, o Real? Ou têm outros interesses, como diria Leonel Brizola? O que o Ciro Gomes tem dito sobre isso? A quem interessa essas falas quase diárias? Ou seriam ataques quase diários? Ataques ao Real, que fique claro. Trinta anos depois, o PT permanece especulando contra a moeda que salvou o País, o partido e os governos de Lula. Além do sectarismo, permanecem ingratos. Claudio Luzi se foi e já deixa saudades Em 1984, quarenta anos atrás, chegou em Belém um italiano de Bolonha. Naquela altura, Claudio Luzi era um chefe de cozinha de mão cheia desembarcando na Cidade das Mangueiras “com uma na frente e a outra atrás”, após torrar todas as suas liras e dólares nas praias, morros, restaurantes, bares, boates e hospedagem no escaldante Rio de Janeiro. Ele vinha para o Brasil fugindo da vida de riscos e prazeres adotados pelos jovens nascidos no pós-guerra, chamados de baby boomers (1945-1964) nos países de língua saxã. Aqui se tornou o fundador da Cantina Italiana de Belém do Pará. Nela formou chefes, cozinheiros, garçons, gestores e construiu a turma da Cantina, uma família.
Adepto da boa vida na mama Itália, rebelde simpatizante da esquerda, se dedicou à cozinha e fez disso o passaporte para a virada de chave que daria na sua vida, se estabelecendo em Belém e fazendo história com a sua Cantina nos últimos 40 anos. Quando duas lendas se cruzam: Romulo Maiorana e Claudio Luzi O que a Itália uniu por laços de nacionalidade, o Brasil reuniu no Iate Clube de Belém do Pará. O lendário empresário Romulo Maiorana dava as cartas no clube e na cidade quando ouviu falar do jovem italiano e cozinheiro que estava na área e se propunha a fazer uma “Noite Italiana”. O italiano forasteiro não só teve o pedido atendido, como, após grande sucesso e cobertura da imprensa (de Romulo Maiorana), ele conseguiu a grana para se sustentar e abrir a sua primeira casa nos arredores da Praça da República, a “Cantininha”, cuja placa está na ilustração deste texto. Claudio guardava as fotos da noite que lhe abriu todas as portas emolduradas na entrada da icônica Cantina Italiana da Benjamim Constant. Além da gastronomia caprichada e da harmonização com os vinhos adequados, o local é um passeio por tudo que ele mais amava: a Itália, a família, a Ferrari, a Azurra e a Juve. Com açúcar e com afeto Pai dos brasileiros Enzo (sucessor e chefe) e Edianny, aqui Claudio encontrou o seu anjo da guarda, amor da sua vida, porto seguro, a sua Zucchero, agora a querida e doce viúva Odinéia. O ponto de equilíbrio da família. Claudio foi antes de tudo um bon vivant, que amava corridas de F1, era tifosi ferrarista e da Juventus de Turim. Na parede da Cantina, atrás da mesa dele há um quadro da final de 1994 e o placar: 0x0. Já na de 2006, que eles bateram os franceses também nas penalidades, o placar é 5x3. Esse era o Claudio italiano e torcedor fanático. Sol e Mar Além de não ter tido tempo para perguntar onde ele tinha assistido a “tragédia do Sarriá” e como terminou os verões de 1982 e 2006, o italiano mais paraense que conheci também não me disse se tinha visitado todos os mares que circundam a península italiana, mas tenho quase certeza que sim. Ele amava o mar e o sol. Descobriu Salinas e virou salinense. Amava o Rio de Janeiro, o Tênis Clube e o esporte; foi amante de charutos enquanto o coração e o pulmão permitiram e, em relação aos vinhos então, nem se fale. Amava a vida e tinha a sorte dela o amar também. Há alguns anos, ficou entre a vida e a morte e foi salvo no Hospital Guadalupe. Acho até que virou devoto da Virgem… Depois disso, se aposentou “de direito”, mas nem tanto, e rodou o mundo mais uma vez. Um tempo desses estava numa ilhota entre o Caribe e o extremo norte da América do Sul quando houve um terremoto brabo lá e ele ficou semanas desaparecido. A família aqui desesperada e ele acumulando histórias e aventuras pelo mundo. O cara ganhou dinheiro, reconhecimento e permaneceu com alma de aventureiro e fã dos Beatles e dos Stones, vide a língua de fora em quase todas as fotos, sua alma e comportamento rock and roll. Aliás, no meio do tanto que me ensinou a comer melhor, também foi o responsável por apresentar-nos alguns grandes músicos italianos, como Lucio Dalla, Andrea Bocelli antes da fama por aqui e Pino Daniele, pra ficar em alguns. Apresentar-nos porque com meu compadre e amigo da alfabetização Maurício Azevedo Jr., e mais de uma dezena de amigos, faço parte de uma geração de belenenses que adotou a Cantina para sempre.
Melhor risoto Um dia cheguei com ele e perguntei como conseguia fazer um risoto tão maravilhoso, mais que perfeito, o melhor de todos, pois a vida tinha me proporcionado ir a alguns restaurantes estrelados, irados, mas me arriscava a dizer que o dele era o melhor. Com aquele seu velho idioma fruto de uma mistura de italiano com portunhol, ele deu o papo: “Toni, fui morar em Milano e andei pelas cozinhas dos melhores hotéis da cidade. Pedia pra trabalhar até de graça para aprender com os ‘risoteiros’ de lá, os melhores del mondo” (sic). Assim era ele, hedonista, perfeccionista, descolado, cidadão do mundo. O cardápio, a excelência, o capricho, a fartura, as tradições, por isso que tudo na Cantina é raiz, de primeira, com público cativo sempre. Em cada canto um traço, uma marca dele. Claudio Luzi era empresário e chefe de cozinha, ao tempo em que exercia funções de cidadão politizado, pai, avô, motociclista, jipeiro, praieiro, tenista, amante, amado, charuteiro, sommelier, enólogo, peladeiro, tifosi, ferrarista, pescador, distribuidor, bebedor e patrão de confraria. Sen confuson Uma vez, na época em que ele fumava charuto todo dia e era permitida a degustação na casa, perguntei se poderia comemorar um niver no extremo oposto da mesa cativa dele, durante o qual ia rolar uma sequência de puros oferecidos pelo filho do seu grande amigo “Mauriçon”. Com o sotaque costumeiro e o charme indefectível, ele autorizou dizendo:
“Toni, tutto benne, mas, per favore, sen confuson”....
“Jamais!”, respondi rindo e grato. Eu o amava. Ele sabia disso. Espírito Cantina Sou da turma que chega cedo nas datas comemorativas na Cantina ou o jeito é esperar na fila na porta. Mesas nas semanas do Natal são disputadas porque o local permanece sendo o destino preferido para a realização de dezenas de confras de amigos e demais clientes todos os anos. De 1984, da “Cantininha”pra cá, amar a Cantina, o Claudio, a Zucchero e todos que compõem a grande confraria que sempre orbitou em torno dele, faz parte de um estilo de vida, da cultura de gerações de nascidos e demais moradores da cidade, daquela época até hoje. Desde ontem, a Benjamim 1401 está com um buraco gigante e não tem Seurb que dê jeito. Imagino a tristeza da família. Acabou o barulho, a voz estridente, o ator, o líder, o artista, o querido e inesquecível Claudio Luzi. Agora ele vai cozinhar e exibir todos os seus dotes e artes na confraria do céu, com os seus queridos da “Bota” e de Belém que chegaram lá antes dele. Até um dia, querido. Obrigado por tudo.